"A tecnologia não vai modificar a literatura. Pode
mudar o mercado de livros. Mas a literatura é a mesma desde que existe a
linguagem. Muito antes de existir a escrita, já existia Homero, com a Odisseia
e com a Ilíada. A literatura já foi escrita em papiro, em pergaminho, em rolo,
em tablita tabletes de argila. O que muda é o suporte dela, se é uma tela de
computador ou se é um livro, isso é secundário."
Autora de 140 livros, com cerca de 19 milhões de exemplares
vendidos, traduzidos para diversas línguas, a presidenta da ABL disse que ainda
não disponibilizou nenhuma obra em formato eletrônico. "Enquanto não se
descobrir como remunerar o direito autoral, fica só a pirataria".
Sobre a presença da ABL na Flupp, realizada em uma área onde
antes da pacificação das UPPs aparecia quase diariamente na imprensa por causa
de tiroteios envolvendo o tráfico de drogas, Ana Maria disse que a academia tem
uma ligação histórica com as favelas.
"A gente tem que lembrar que o fundador da academia,
Machado de Assis, nasceu no Morro da Providência, a primeira favela do Brasil.
Nossa presença aqui é uma volta ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído.
Não devíamos ser uma cidade partida. Devemos todos estar juntos, na grande
síntese cultural brasileira."
Uma das perguntas feitas pelos estudantes à autora foi sobre
qual era o prazer de sua profissão. "O prazer de ser escritora é poder
tocar o outro. Poder chegar à mente, ao coração de outras pessoas. Falar em
nome dos outros. Fazer com que o outro se reencontre na gente e que cada um se
conheça mais pelo o que a gente escreveu."
Agência Brasil